Juliana Paes: 'Nunca estive tão conectada com os meus desejos como estou agora' (2025)

"Tenho essa marca, mas acredito que todos usamos uma máscara para encarar a vida. A minha sempre foi o sorriso. Para mim, sorrir é mais simples e mais fácil. Eu não faço força para estar leve ou de bom humor, esse é o meu modus operandi. Claro que, muitas vezes, me apresento dessa forma, mesmo que não esteja me sentindo assim. É a maneira mais fácil que encontrei para tocar o barco. Isso não significa que eu não enfrente momentos complicados, mas acho que o sorriso é sempre uma maneira mais fácil de tocar o outro", conta.

A atriz mantém o seu estilo, mas cada vez menos se preocupa em atender as expectativas dos outros. A reflexão após a chegada dos 40 fez com que ela se conectasse ainda mais consigo.

"Acho que nunca estive tão conectada com os meus desejos como estou agora. Em algumas situações, acabo abrindo mão de certas coisas, mas estou gostando de estar mais responsiva e em sintonia com o que realmente quero fazer. Estou menos preocupada com expectativas alheias ou com a possibilidade de desagradar alguém ao dizer não. Isso tem sido muito libertador para mim. É uma sensação maravilhosa sentir que estou mais no controle das minhas escolhas e dos meus próprios desejos", ressalta ela, casada com Carlos Eduardo Baptista, com quem tem dois filhos, Pedro, de 13 anos, e Antônio, de 11 anos.

Isso também reflete nas escolhas como atriz. Aos 45 anos, Juliana também se reinventa e se abre ainda mais a produtos que mostrem o Brasil para o mercado internacional. Após finalizar o seu contrato fixo de 21 anos com a TV Globo em 2022, a artista, que ainda fez participações especiais em duas novelas de sucesso na emissora, estrelou no streaming a série Pedaço de Mim, da Netflix, e Vidas Bandidas, da Disney+.

"Queremos mostrar que as histórias brasileiras têm muito a oferecer e que há um espaço a ser conquistado lá fora", almeja ela, que como nova embaixadora da Campari quer dar mais visibilidade para o cinema nacional no exterior.

Você é uma mulher que sempre imprimiu essa autenticidade no seu modo de se portar na vida pública. Quão desafiador foi manter a sua genuinidade ao longo dos anos em uma sociedade em que muitas vezes se é vendido uma vida perfeita?
Acho que o grande desafio é equilibrar a autenticidade com as expectativas do público, que é muito diversificado e espera coisas diferentes de nós. Ao mesmo tempo, nós, como pessoas públicas, também somos cheios de complexidades e sentimentos opostos. No final das contas, somos seres humanos como qualquer outro. Vivemos em um momento em que as redes sociais promovem uma visão idealizada, um mundo perfeito, mas o que eu sempre tentei foi ser transparente. Mostro um pouco da minha vida pessoal, mas sem escancarar minha intimidade; me preservo em alguns aspectos. Para mim, autenticidade é isso: mostrar o que você quer, guardar o que deseja manter para si e absorver as críticas, tanto as boas quanto as ruins, porque isso faz parte da vida pública.

Uma das suas marcas é a leveza e o sorriso. Qual o segredo para encarar a vida sempre assim?
Tenho essa marca, mas acredito que todos usamos uma máscara para encarar a vida. A minha sempre foi o sorriso. Para mim, sorrir é mais simples e mais fácil. Eu não faço força para estar leve ou de bom humor, esse é o meu modus operandi. Claro que, muitas vezes, me apresento dessa forma, mesmo que não esteja me sentindo assim. É a maneira mais fácil que encontrei para tocar o barco. Isso não significa que eu não enfrente momentos complicados, mas acho que o sorriso é sempre uma maneira mais fácil de tocar o outro. É a maneira com a qual me sinto bem. Não sou do tipo que busca o respeito ou aprovação das pessoas porque é marrenta ou porque é uma pessoa difícil. Eu nunca tive a necessidade de provocar essa sensação nas pessoas.

Em uma sociedade machista, muitas mulheres têm que se endurecer para serem respeitadas e ouvidas. No começo da carreira, ser uma pessoa alto-astral e sorridente já te gerou "problemas", como o de não ser ouvida ou não ser tratada do jeito que deveria?
Sim, infelizmente já passei por situações em que as pessoas confundiam meu jeito mais leve com falta de seriedade ou até de profissionalismo. Mas, ao longo do tempo, fui mostrando com meu trabalho que não há conflito entre ser sorridente, alto-astral, e ser competente e responsável. No início, precisei me posicionar mais firmemente para conquistar esse respeito, mas, hoje, acredito que posso equilibrar as duas coisas sem me sentir prejudicada.

O que te deixa de mau humor? Tem seus dias assim ou nunca sai de casa sem resolver suas questões?
Tenho meus dias de mau-humor, sim! Acho que ninguém é imune a isso, né? O que me tira do sério é a falta de respeito, em qualquer contexto. Como toda mãe, quando a rotina sai do controle e as coisas se acumulam, isso me afeta. Mas gosto de resolver as minhas questões o mais rápido possível para não carregar esse peso por muito tempo. Não é sempre que consigo, mas a intenção é sempre essa.

Dizem que, após os 40, costumamos ter o desejo de nos reinventar, procurar novos desafios e repensar as nossas prioridades. Com você foi ou está sendo assim? Foi dolorido se reciclar e renovar?
A chegada dos 40 anos é sempre muito emblemática. Eu, no entanto, passei esse marco trancada em casa, no meio do lockdown da pandemia, o que foi bastante difícil. Estava ansiosa para comemorar com uma grande festa, mas acabei celebrando pelo FaceTime com apenas cinco amigos. Acho que estou vivendo esse momento de maneira mais intensa agora, especialmente com a decisão de mudar um pouco os ares, como a transição da TV para o streaming, que foi uma escolha mais desafiadora.

Ao olhar para o início da sua carreira, você imaginava que seria uma figura tão importante para a internacionalização das produções audiovisuais no Brasil?
Eu não sei se imaginava isso. Acho que existe essa ideia de que o artista está sempre criando algo com o objetivo de atingir o público, mas, para mim, ser artista é algo muito mais íntimo. É fazer algo que faça sentido para si mesmo. Nesse momento, quando você coloca suas próprias emoções e dramas, é que realmente toca as pessoas. Vou dar um exemplo prático: na série, interpretei uma mãe de gêmeos. Sempre que via os dois meninos, colocava o rosto dos meus próprios filhos neles. Quando minha personagem sentia dor, eu enxergava meus filhos. Isso tornava tudo muito real para mim. Essa entrega tão pessoal é o que acaba emocionando o público. Não pensamos em internacionalizar esses dramas ou agradar um público de fora; fazemos com toda a alma que temos. O fato de isso tocar diferentes públicos é uma consequência natural; os sentimentos são universais. No fim das contas, acho que é o amor pelo que fazemos nos dá forças todos os dias. É assim que eu vejo. Acho que é amar o que a gente faz que nos dá forças todos os dias.

O que a Juliana Paes de agora prioriza enquanto mulher?
Acho que nunca estive tão conectada com os meus desejos como estou agora. Em algumas situações, acabo abrindo mão de certas coisas, mas estou gostando de estar mais responsiva e em sintonia com o que realmente quero fazer. Estou menos preocupada com expectativas alheias ou com a possibilidade de desagradar alguém ao dizer não. Isso tem sido muito libertador para mim. É uma sensação maravilhosa sentir que estou mais no controle das minhas escolhas e dos meus próprios desejos.

Você sempre foi um ícone de beleza. Como são seus cuidados hoje? Você adotou dietas mais rígidas ou tem se permitido curtir mais a vida?
Acho que tenho, hoje em dia, uma relação de cuidado com o meu corpo que tem muito mais a ver com endorfina e saúde. Saúde mental, mais do que nunca. Não escondo de ninguém que vivi momentos difíceis de ansiedade, e nada pode ser melhor para mim do que a atividade física. Atualmente, treino como quem busca um remédio. Agora, sobre os cuidados estéticos, sou bem ponderada. Utilizo eventualmente algo para estimular o colágeno e, muito pontualmente, botox. Tenho sempre o cuidado de manter a naturalidade, preservar minha expressão, principalmente porque preciso dela para a minha arte.

Você sempre falou que não deixava de tomar sua cervejinha em prol da beleza. Segue assim? Qual o seu drinque favorito?
Gosto de drinques clássicos. Adoro Aperol Spritz, Negroni, gosto de bebidas com personalidade. O Negroni, por exemplo, sempre me conquistou pela sofisticação e elegância. É o tipo de drinque que transforma qualquer momento em algo mais especial.

Você hoje é uma das atrizes mais respeitadas do Brasil e se destaca por cada personagem que faz, seja ele uma participação ou uma grande protagonista. Qual trabalho faz hoje você dar o seu "sim" e quais são ainda suas ambições como atriz?
Dou o meu "sim" para projetos que me desafiem de alguma forma. Não precisa ser o papel principal, mas precisa ter um propósito, me instigar como artista. Minhas ambições são continuar me reinventando, descobrindo novas formas de contar histórias. E, claro, seguir aprendendo, pois acredito que a arte está em constante transformação, e eu quero fazer parte dessa jornada.